Em meio à repercussão negativa gerada pelo anúncio da tributação de encomendas internacionais de até US$ 50, o Ministério da Fazenda recuou da decisão e agora negocia com as gigantes asiáticas , a instituição de um novo imposto digital que, na teoria, desonerará o consumidor final de qualquer recolhimento de tributo.
As varejistas chinesas já sinalizaram apoio às possíveis atualizações regulatórias e agora aguardam os próximos passos do governo.
Como sinal de amistosidade, a Shein enviou recentemente ao Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, uma carta-compromisso que promete nacionalizar 85% dos produtos vendidos pela marca em até 4 anos, através de parcerias com cerca de 2 mil fabricantes brasileiros, gerando mais de 100 mil empregos no país.
Para colocar o plano ambicioso em prática, a plataforma fará um investimento inicial de R$ 750 milhões. Todavia, embora a iniciativa represente um importante passo para reequilibrar as relações de consumo e aumentar a competitividade do setor têxtil brasileiro, ela não resolve o âmago do problema.
Primeiramente, porque o Estado não pode garantir a anulação do repasse do tributo ao consumidor final, já que a formação do preço é uma atividade privada. Além disso, assumir despesas que podem chegar até 60% do valor final do produto seria uma estratégia mercadológica impraticável para qualquer negócio.
Em segundo lugar, ao aderir ao plano de conformidade proposto pelo governo, a gigante asiática enfrentará a segunda maior carga tributária do mundo. Instalada no Brasil, a marca dificilmente conseguirá manter os valores atrativos que aplica hoje, pagando mais caro pela mão de obra e pela matéria-prima nacional.
Ainda há que acrescentar ao cálculo, o excesso de litígios trabalhistas e as incertezas tributárias e jurídicas impostas diariamente ao empresário brasileiro.
Diante de todos esses obstáculos, mesmo que a rede fast fashion consiga assimilar o “custo Brasil”, ela passará a concorrer com o comércio ilegal, sonegação de impostos, lobby por incentivos, pirataria, entre outras anomalias Made In Brazil.
Desejamos que a Shein consiga prosperar nesse ambiente hostil, onde tantas estrangeiras falharam (vide Walmart, Nike, Nikson, Ford, Forever 21, Fnac, entre outras), e que compartilhe conhecimento e inovação com mercado nacional.
Fica claro para todos nós, que o único caminho plausível para equilibrar a economia continua sendo a implementação de uma Reforma Tributária justa, capaz de reduzir impostos e promover a competividade das nossas empresas no Brasil e no mundo.