Enquanto a iniciativa privada tenta sobreviver ao caos econômico, o funcionalismo público parece viver apático à realidade do país.
Já são mais de 5,5 milhões de trabalhadores vivendo com salários reduzidos ou sem empregos, em função da pandemia. E a expectativa é que 73% dos empregos formais sejam atingidos por uma dessas tristes situações.
Os números desesperadores parecem não comover o Legislativo brasileiro, que aprovou reajustes para servidores, mesmo sabendo da capacidade limitada de endividamento que o Estado pode assumir atualmente.
Aliás, o congelamento desses aumentos, pelos próximos 18 meses, foi a única exigência da equipe econômica para realizar o repasse de R$ 60 bilhões para estados e municípios em situação de calamidade pública. No entanto, os parlamentares retiraram uma série de categorias da regra.
Esse tipo de estratégia vil e, infelizmente, típica de nossos governantes, ataca a arrecadação do Brasil e a dignidade de milhares de brasileiros, que não tem acesso aos penduricalhos e a estabilidade da máquina pública.
Dois anos de congelamento desses reajustes representaria uma economia de cerca de R$ 130 bilhões, segundo o ministério da economia.
O presidente da república Jair Bolsonaro já manifestou a intenção de vetar essa parte do projeto, mas ainda não anunciou quando o fará. Nesse ínterim, novos acertos estão em tramitação ou foram aprovados.
A Assembleia Legislativa de Mato Grosso, por exemplo, aprovou um projeto com aumento de salários para os cargos mais altos do governo do Estado. Inacreditavelmente, cargos comissionados de R$ 6.287,82 foram dobrados para R$ 12.775,63.
Já a Assembleia Legislativa da Paraíba, aprovou, em caráter de urgência, uma MP com reajuste salarial de 5% para servidores públicos estaduais, ocupantes de cargos ou empregos públicos de provimento efetivo, ativos, inativos e pensionistas.
A Assembleia Legislativa de São Paulo publicou um aumento de 3,89% aos servidores do Tribunal de Contas do Estado, que foi suspendido no mesmo dia pela própria Corte.
É inadmissível que a maioria dos brasileiros tenha que perder suas empresas e empregos e, ainda sim, sustentar uma classe que se coloca acima de todos.
O que esperar do funcionalismo brasileiro? Muitos privilégios e nenhum sacrifício.