Quando nos deparamos com o panorama de ações criadas ou engendradas pelo meio político brasileiro, só nos resta demonstrar nossa estupefação e constatação de que a luta pelas mudanças ainda vai ser longa e continuada.
Do ponto de vista da sociedade produtiva deste país, que paga os impostos, cria empregos e gera riqueza e prosperidade, o fato de se criar um rito longo e cheio de meandros populistas para realizar o impeachment da Presidente Dilma, alegando que tudo isto são regras da democracia, fica claro que isto é uma balela. Estamos cansados de saber que tudo não passa de um teatro, para se chegar ao ponto nevrálgico, que é o seu afastamento do cargo.
Todos nós estamos cientes de que o crime de “pedaladas fiscais”, que se enquadra na tipologia necessária para o impeachment, não é a principal infração praticada por seu governo e sim a incompetência, a irresponsabilidade, a inconsequência e o envolvimento com a corrupção, que prejudicou de forma crítica a população brasileira, levando a um prejuízo geral de pelo menos 100 vezes o produzido pela corrupção da Petrobrás, além da perda da felicidade e alegria que eram patentes ao povo brasileiro.
Como fica difícil o enquadramento de tal delito, fica mais fácil utilizar a violação da lei de responsabilidade fiscal para retirá-la do poder. Esta estratégia foi usada para colocar Al Capone na cadeia. Não conseguiam provar que ele cometeu assassinatos e outros crimes maiores, então utilizaram um delito menor, a sonegação de impostos, para prendê-lo definitivamente, ou seja, “não interessam os meios desde que atinjam os fins”.
O problema é que o tempo determinado para que se faça o julgamento pela Câmara e pelo Senado, ficou longo demais e principalmente sujeito a negociações nebulosas, chantagens e outras mazelas perpetradas pelo mundo político.
De que forma o Presidente em exercício Michel Temer pode realizar mudanças e tomar medidas cabíveis para colocar o Brasil no caminho que esperamos, se por causa disto tem que barganhar com os partidos e com os senadores e conviver com a possibilidade da mudança de votos no final do “julgamento”.
Este quadro é caótico e incapaz de produzir caminhos adequados.
O que estamos presenciando é o entra e sai de novos ministros indicados por partidos, que por estarem com a idoneidade comprometida não podem permanecer nos cargos.
Vemos também o absurdo dos aumentos de salários concedidos recentemente ao funcionalismo público, como o de 48% para o Judiciário, que provoca uma despesa inadequada ao erário em tempos de crise. Se a sociedade produtiva é a patroa dos poderes públicos e não tem conseguido sobreviver dignamente, conseguindo comercializar seus produtos e serviços ou dar aumentos de salários que nem cobrem a inflação, como seus “empregados” podem receber estas benesses?
Estamos observando também com muita apreensão a criação de mais de 14 mil novos cargos no governo, quando deveríamos aplaudir cortes nas despesas e nos custos do estado.
Todas estas aberrações tem ligação direta com o prazo definido pelo STF para o impeachment e com a qualidade duvidosa do caráter de nossos congressistas.
Neste momento clamamos pela reação do STF, que deve abreviar o rito, e ao Presidente Temer para que haja com destemor e enfrente a transparência, tomando as medidas certas, incluindo aí a proteção à lava jato, zelotes e outras operações saneadoras. É chegada a hora de enfrentar o medo das consequências políticas, afinal, a sociedade está de seu lado, entretanto a necessidade da vigilância de todos ainda continua sendo a palavra de ordem.
Cícero Heraldo Novaes
Engenheiro e Presidente da CDL