Os últimos anos foram desafiadores para os MPEs — micro e pequenos empreendedores brasileiros. O avanço da vacinação, o controle da pandemia e o retorno à vida “normal” foram acompanhados pela alta dos preços e por um longo ciclo de alta na taxa básica de juros.
As consequências desse processo já são percebidas: de acordo com os micro e pequenos empresários de todas as capitais do país, o aumento dos preços e do custo da matéria-prima (38%) é o principal desafio para o crescimento da empresa no mercado. É o que aponta um levantamento realizado pela CNDL — Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e pelo SPC Brasil — Serviço de Proteção ao Crédito em parceria com o Sebrae.
De acordo com a pesquisa, outros desafios apontados são: alto custo para contratar funcionários (32%), excesso de burocracia (25%) e alta carga tributária sobre as vendas (23%).
Abordando especificamente problemas ligados à gestão da empresa, 8 em cada 10 empresários (79%) relataram enfrentar alguma dificuldade, sendo a principal delas a alta concorrência (23%), seguida da falta de dinheiro para fazer novos investimentos (22%), a captação de novos clientes (19%) e a falta de capital de giro (19%).
4 em cada 10 empresários tiveram que fazer cortes no orçamento
Diante dos desafios, 5 em cada 10 micro e pequenos empresários (55%) estão investindo em melhorias para aumentar as vendas, principalmente a propaganda em meios digitais (28%) e o aumento do mix de produtos e serviços ofertado (18%). Por outro lado, quase metade (45%) não está investindo visando o aumento das vendas.
Olhando retrospectivamente para o 1º semestre de 2022, 6 em cada 10 empresários (58%) afirmaram ter aumentado as vendas.
Outros 39% fizeram reserva financeira e 32% conseguiram aumentar o tamanho do negócio. A pesquisa aponta ainda que 4 em cada 10 micro e pequenos empresários (41%) tiveram que fazer cortes no orçamento, 25% ficaram muitos meses no vermelho, 22% tiveram que diminuir o mix de produtos e/ou serviços vendidos, sobretudo no comércio (28%), 14% possui dívidas em atraso e 10% estão negativadas.
46% das empresas investem em divulgação para vender
No mundo pós-pandemia os canais digitais se mostraram indispensáveis aos pequenos e microempresários. Prova disso é que 8 em cada 10 empresários (77%) utilizam o WhatsApp para se comunicar com seus clientes e 5 em cada 10 (55%) mantêm perfil em redes sociais, como Facebook, Instagram, Youtube, entre outras.
A utilização dessas redes está muito à frente de outros canais como Telemarketing (11%), site (10%), e-mail marketing (10%), venda direta porta em porta (8%) ou eventos (8%).
Outra evidência dessa relevância é que as empresas estão investindo mais em canais online de divulgação (34%) do que em canais offline (23%). Entre os canais online, 20% utilizam anúncios pagos nos Facebook/Instagram e 10% anúncios pagos no Google. Já nos canais offline, 17% fazem panfletagem e 6% usam carros de som. O investimento médio mensal em divulgação de produtos e serviços das empresas é de R$763. Cabe ressaltar, no entanto, que pouco mais da metade (54%) não investe em nenhuma forma de divulgação.
A pesquisa aponta que os empresários têm usado tanto canais de vendas online (80%) como offline (73%). Vale destacar que o uso de canais online é mais presente no setor de serviços (84%), enquanto o de canais offline no setor de comércio varejista (79%).
Os principais aliados online são o WhatsApp (66%) seguido das redes sociais, como Facebook, Instagram e Youtube (54%). As lojas/escritórios físicos são o principal meio offline (63%).
Quase 5 em cada 10 MPEs consideram que é difícil ou muito difícil contratar crédito no Brasil
De acordo com a pesquisa, 45% dos micro e pequenos empresários consideram que é difícil ou muito difícil contratar crédito no Brasil. Entre eles, o principal motivo é a taxa de juros muito alta (65%).
Com juros mais altos, a maioria dos empresários prefere evitar a tomada de crédito: 63% disseram que provavelmente e/ou com certeza não irão contratar crédito nos próximos 3 meses, pelo menos. Entre os poucos que pretendem (11%), o principal destino é: capital de giro (32%), reforma da empresa (28%), ampliação do negócio (27%), a compra de equipamentos (25%) e a compra de estoques e/ou insumos (23%).
A cautela dos empresários também pode ser verificada pelo baixo número dos que pretendem investir na empresa nos próximos 3 meses: apenas 27% têm a intenção de investir, enquanto 41% não têm. Entre os que pretendem investir, as principais finalidades são: compra de equipamentos (37%, destaque entre serviços), ampliação do estoque (31%, principalmente no comércio), reforma da empresa (27%), mídia/propaganda (27%), contratação de novos profissionais (24%) e conseguir manter a empresa aberta (22%). A principal origem dos recursos que serão usados para investimento virá de capital próprio, seja na forma de poupança ou investimentos (47%) ou venda de algum bem (18%).
“Os dados da pesquisa evidenciam a necessidade imediata de políticas públicas mais eficientes e capazes de facilitar a vida das MPEs, que hoje são responsáveis por 30% do PIB e 99% dos empreendimentos brasileiros.
Precisamos lutar por projetos que favoreçam a concessão de crédito, simplifiquem a burocracia e reduzam os tributos para que o empreendedor seja encorajado e não desista no primeiro ano do negócio”, afirmou o presidente da CDL, Cícero Heraldo Novaes.